O processo de aprendizagem da criança deve ser um percurso dinâmico e ativo, que começa muito antes da entrada na escola. Este inicia-se no estabelecimento de relações entre a criança e o meio ambiente que a envolve, que serão a base para o seu futuro. É sobretudo através do brincar e do fazer que a criança tem oportunidade de aprender, de experimentar, de errar e de voltar a tentar. E esta aprendizagem deve ser um processo divertido, mas muitas vezes não é isto que acontece.
O que é?
A Integração Sensorial é um processo neurológico que organiza a sensação vinda do corpo e do ambiente, permitindo respostas adaptativas ao ambiente, ou seja, uma reação e um comportamento adequados ao estímulo recebido. O processamento da informação sensorial é a capacidade de receber, classificar e processar as sensações recebidas através dos nossos sentidos: visão, audição, paladar, olfato, tato, propriocetivo (posição e movimento do corpo) e vestibular (gravidade, movimento da cabeça e equilíbrio).
Qual a importância do processo de Integração Sensorial?
Toda a informação que recebemos do mundo que nos rodeia provém do nosso sistema sensorial e é processada pelo sistema nervoso. Este processamento acontece de forma inconsciente e automática, tal como o batimento cardíaco e a digestão, por exemplo. É frequente algumas crianças apresentarem dificuldade em aprender e em comportar-se como o esperado, por apresentarem uma desordem de integração sensorial, isto é, têm dificuldade em processar a informação sensorial que recebem do ambiente.
É a integração de todas sensações recebidas que possibilita o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de competências necessárias para interagirmos com o mundo. Contribuem para a aquisição de competências motoras e cognitivas, o estado de alerta/atenção, a interação social, a comunicação, a regulação emocional e a organização do comportamento no tempo e no espaço.
Como funciona a Terapia de intervenção?
A disfunção da integração sensorial interfere na exploração e no envolvimento com o contexto, nas atividades e tarefas escolares, no brincar, nos autocuidados e ainda no ciclo de sono e descanso. Mais especificamente, compromete a capacidade que nos permite perceber como devemos usar as nossas mãos e o nosso corpo em tarefas como brincar, usar um lápis e um garfo, construir uma estrutura, arrumar o quarto e envolvermo-nos em diversas ocupações.
A Terapia de Integração Sensorial tem como objetivo melhorar a capacidade de integração dos estímulos sensoriais. É uma intervenção fundamental para minimizar dificuldades de aprendizagem, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, dificuldades motoras e problemas comportamentais.
Quais são os sinais de alerta?
Esta disfunção pode estar presente em crianças com um desenvolvimento típico e sem alterações cognitivas, como em crianças que tenham outro diagnóstico médico. E nem todas as crianças com dificuldades de aprendizagem, de desenvolvimento e comportamentais têm necessariamente uma desordem de integração sensorial. Existem, no entanto determinados fatores, que podem indicar a existência desta disfunção. Pais e professores devem estar atentos aos seguintes sinais de alerta e comportamentos:
- Dificuldades de atenção/concentração;
- Dificuldades comportamentais;
- Dificuldades de coordenação motora (global e fina);
- Atraso na fala e na linguagem;
- Dificuldade em ajustar-se e em adaptar-se socialmente;
- Dificuldade em aceitar determinadas sensações (visuais, auditivas e/ou táteis);
- Pobre capacidade em sequenciar tarefas;
- Excesso de atividade ou lentidão;
- Sem consciência do perigo;
- Impulsividade;
- Isolamento social;
- Baixa autoestima;
- Baixo nível de motivação para atividades que já conhece e para novas.
O que fazer?
Normalmente uma criança com disfunção de integração sensorial apresenta mais do que um dos sinais mencionados em cima.
Estes são alguns dos sinais que carecem atenção, sendo fundamental prevenir e intervir o mais precocemente possível, no sentido de evitar problemas maiores no futuro. Uma disfunção de integração sensorial resultará em mais momentos de esforço e de dificuldade para a criança, e menos sentimentos de sucesso e de satisfação. Cada criança é um ser único, por isso, se persistir alguma dúvida deverá encaminhar para técnicos qualificados, nomeadamente um Terapeuta Ocupacional com formação especializada em Integração Sensorial, garantindo uma avaliação individualizada e confiável.
Maria João Fernandes
Terapeuta Ocupacional
Cédula Profissional Nº C-044019181