Isabel Mendes, mãe do Gonçalo Gomes

Tive conhecimento da Acip por intermédio da pedopsiquiatra do Hospital Magalhães Lemos. Nessa altura o Gonçalo tinha quatro anos. Hoje tem catorze. Desde que o Gonçalo começou a andar que sempre achei que havia algo de errado quando o comparava com as crianças da idade dele. A falta de equilíbrio, o cair completamente desamparado sem conseguir colocar as mãos no chão para se proteger da queda. Quando aos 3 anos foi para a pré escola pedi à educadora que estivesse atenta porque achava que havia algo de errado com ele. Entretanto na Acip uma técnica que aí se deslocou para fazer um EEG a algumas crianças aquando da vez do Gonçalo perguntou-me se sofria de epilepsia, ao que respondi que não mas pelos vistos sofria mesmo nunca tendo nenhuma convulsão. O neuropediatra que o começou a seguir encaminhou-nos o Hospital Maria Pia onde procedemos a análises metabólicas e para o Hospital S. João onde fizemos análises genéticas e ressonância magnética ao cérebro felizmente com resultados normais. O geneticista mal colocamos os pés no gabinete disse-nos que não havia nada de errado com o nosso filho, que o que tinha era dispraxia. Bem… a palavra mais parecida que tinha escutado até essa altura era dislexia, portanto não fazia a mínima ideia do que seria. Foi na Acip que me explicaram e deram todas as informações. Na altura começou a frequentar sessões de terapia ocupacional que mantém até hoje e no ano seguinte começou com psicologia que também mantém. Pelo meio frequentou sessões de equitação terapêutica que adorava e os grupos com os coleguinhas da Acip. Durante todo esse tempo praticou natação a conselho do pediatra, modalidade que pratica até hoje.

Desde o início que a equipa foi quase sempre a mesma. Têm sido incansáveis. Os progressos têm sido notórios apesar de no momento também devido à idade a parte emocional esteja um pouco alterada mas nada que não esteja a ser tratado. Sempre me senti apoiada, deram-me a conhecer os meus direitos e deveres. Participam nas reuniões da escola sempre que lhes é solicitada. Emocionalmente sempre me senti muito apoiada. Sempre que precisei houve um ombro para me amparar, uma palavra amiga. Riem e choram comigo. Nesse âmbito o grupo de parentalidade foi uma mais-valia porque ouvíamos os desabafos dos pais com problemas bem piores do que os nossos, sim porque achamos sempre que o pior nos acontece a nós, acompanhados por duas psicólogas maravilhosas que nos ajudavam a gerir as emoções, lidar com as angústias, frustrações, receios, ansiedades e injustiças de que eramos alvo. Nesse grupo ficamos com a certeza de que ao estamos sozinhos, que a Acip está ali para nós. Os resultados são bem visíveis, a relação de cumplicidade que se cria é muito forte. Isso acontece porque somos uma família, a família ACIP, da qual fazemos parte por uma infeliz circunstância da nossa vida mas a qual adotamos para todo o sempre. Uma família que não nos foi imposta que festeja connosco as vitórias sejam grandes ou pequenas. Enxugam-nos as lágrimas quando é necessário. Estão sempre presentes. Nas vitórias, nos momentos mais tristes e difíceis. Podemos saber que não contamos com mais ninguém mas a Acip está sempre lá para nós porque existem momentos em que nos vamos abaixo e não podemos permitir que os familiares os amigos percebam, é aí que entra a Acip ouvindo os nossos desabafos de que mais ninguém tem conhecimento. Porque tão ou mais importante do que lidar com as emoções das nossas crianças e adolescentes é lidar com as dos seus cuidadores, pois se não estivermos bem nunca conseguiremos cuidar dos que mais amamos. A Acip ajuda-nos a controlar o turbilhão de emoções que por vezes nos assombra. Aqui não sou só a mãe do Gonçalo mas também sou a Isabel Mendes, algo que em muitos locais se esquecem, como por exemplo, na escola em que nos tratam por “mãe”. Sim, sou mãe mas antes de ser mãe sou eu, a Isabel, um ser humano.

Estou-lhes muito grata pelo que fizeram, fazem e continuarão a fazer pois apesar de agora mais do que nunca se falar em igualdade, inclusão e que todos somos iguais nas nossas diferenças é muito bonito na teoria, pois sabemos que na prática não é isso que acontece e a Acip ajuda-nos a encarar essas injustiças com positividade e um sorriso nos lábios ainda que os olhos estejam marejados de lágrimas.

Então quando pensamos como será o futuro dos que amamos quando atingirem a idade de entrar no mercado de trabalho a angústia aumenta a um nível francamente assustador porque sabemos que a maioria das portas se fecha à diferença mas como sempre as colaboradoras da Acip estão lá para nos darem uma palavrinha, nos acalmarem e diminuir o friozinho que sentimos na barriga quando pensamos nisso.

Aqui aprendi a apreciar cada conquista, a tentar viver um dia de cada vez, a ver nos pequenos progressos enormes vitórias. Um muito obrigada a todos, mesmo todos por tudo e… até já!